Globoplay não credita música a Gilberto Gil e ele conta como compôs "Cálice"

No sábado (13), o Brasil se emocionou com a primeira live de Maria Bethânia. A intérprete e compositora que estreou nos palcos há exatos 56 anos comemorou a data em sua primeira live exclusiva no Globoplay, plataforma de streaming do Grupo Globo. A apresentação memorável de uma das maiores intérpretes que o Brasil tem é só elogios nas redes sociais e na imprensa. Mas um deslize, um tanto quanto, imperdoável, chamou bastante a atenção dos fã de Bethânia, de Chico Buarque e de Gilberto Gil. O crédito à canção "Cálice", um hino contra a ditadura, foi apenas à Chico Buarque.

O cantor e compositor Gilberto Gil foi às redes sociais e contou como a canção foi composta por ele e musicada por Chico Buarque.

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"Era semana santa e marcamos um encontro no apartamento dele, na Rodrigo de Freitas (lagoa referida por ele na letra). Pensei em levar alguma proposta e, um dia antes  me sentei no tatame, onde eu dormia na época, e me pus a esvaziar os pensamentos circulantes para me concentrar. Como era sexta-feira da Paixão, a ideia do calvário e do cálice de Cristo me seduziu, e eu compus o refrão incorporando o pedido de Jesus no momento da agonia. Em seguida escrevi a primeira estrofe, que eu comecei me lembrando de uma bebida amarga chamada Fernet, italiana, de que o Chico gostava e que ele me oferecia sempre que eu ia a sua casa. No sábado não foi diferente: ele me trouxe um pouco da bebida, eu lhe mostrei o que tinha feito. Quando, cantando o refrão, cheguei ao ‘cálice’, no ato ele percebeu a ambiguidade que a palavra adquiria, e a associou com ‘cale-se’, introduzindo na canção o sentido da censura. Depois, como eu tinha trazido só o refrão melodizado, trabalhamos na musicalização da estrofe a partir de ideias que ele apresentou. E combinamos um novo encontro. Ele acabou fazendo outras duas estrofes e eu mais uma, quatro no total, todas em oito decassílabos. Dois ou três dias depois nos revimos e definimos a sequência. Eu achei que devíamos intercalar nossas estrofes, porque elas não apresentavam um encadeamento linear entre si. Ele concordou, e a ordem ficou esta: a primeira, minha, a segunda, dele; a terceira, minha, e a última, dele. Na terceira, o quarto verso e os dois finais foram influenciados pela ideia do Chico de usar o tema do silêncio. O termo, aliás, já aparecia na outra estrofe minha, anterior: ‘silêncio na cidade não se escuta’, quer dizer: no barulho da cidade, não é possível escutar o silêncio quer dizer: não adianta querer silêncio porque não há silêncio, ou seja: não há censura, a censura é uma quimera; além do mais, ‘mesmo calada a boca, resta o peito’ e ‘mesmo calado o peito, resta a cuca’: se cortam uma coisa, aparece outra. Aí, no dia em que fomos apresentar a música, desligaram o microfone logo depois de termos começado a cantá-la. Tenho a impressão de que ela tinha sido apresentada à censura, tendo sido recomendado que não a cantássemos, mas fizemos uma desobediência civil e quisemos cantá-la.

CONFIRA ABAIXO OS TWEETES DE GIL

CORRIGIDO 


O crédito correto foi publicado na plataforma e quando a cantora interpreta a música o GC corrigido aparece na tela com o crédito devidamente  corrigido.

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